PCC usou ONGs para influenciar políticas prisionais e enganar o Governo, afirma Promotor
Brasil – O Primeiro Comando da Capital (PCC) utilizou organizações não governamentais (ONGs) como instrumentos de influência nas políticas prisionais do Brasil, segundo denúncia do promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya. A revelação foi feita durante entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira (30).
De acordo com Gakiya, o grupo criminoso financiou e articulou atividades dessas ONGs para ampliar sua influência no sistema carcerário, chegando até Brasília para interagir com parlamentares e membros do Ministério da Justiça. O promotor destacou que, apesar dessa atuação, não há indícios de que as autoridades locais tivessem ciência da ligação entre as ONGs e a facção criminosa. Ele classificou os representantes do governo federal como “inocentes úteis”, sugerindo que, mesmo sem intenção, favoreceram os interesses do PCC.
Documentário financiado pelo crime
As investigações sobre o assassinato do delator Vinícius Gritzbach revelaram que Kauê do Amaral Coelho, membro foragido do PCC, financiou viagens para o diretor do documentário O Grito, uma produção ligada a uma ONG suspeita de servir aos interesses do crime organizado.
“Fica comprovado que havia total interesse do PCC por trás da ONG, e de dar voz às suas manifestações”, afirmou Gakiya. “Eles produziram um documentário, promoveram viagens de dirigentes da ONG a Brasília e conseguiram contato direto com deputados e integrantes do Ministério da Justiça e da Secretaria Nacional de Políticas Penais. Isso evidencia que estavam conseguindo seu objetivo: influenciar as políticas públicas no sistema carcerário.”
A estratégia de comunicação da facção incluía a produção de conteúdos para moldar a opinião pública e política sobre a realidade prisional, favorecendo suas próprias narrativas. O promotor lembrou da Operação Ethos, defPlagrada em novembro de 2016, que revelou o “Setor dos Gravatas” do PCC, resultando na condenação de 39 advogados que atuavam como intermediários do grupo criminoso.
ONGs como instrumentos do crime organizado
Os advogados do PCC também organizavam o chamado “Setor da Saúde”, garantindo assistência médica e odontológica a presos estratégicos da facção. Durante a análise de conversas interceptadas, foi identificada uma referência ao “Projeto ONG”, reforçando a tese de que as organizações não governamentais eram parte do plano do PCC para exercer influência e expandir sua rede de atuação.
A Operação Fake Scream aprofundou essa linha de investigação, revelando que a ONG Pacto Social & Carcerário foi instrumentalizada para promover os interesses do PCC. Segundo Gakiya, essa pode não ser a única organização envolvida. Ele alertou que outras ONGs podem estar sendo utilizadas como canais para que o crime organizado pressione instâncias internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos, na tentativa de manipular discursos e obter benefícios institucionais.
A denúncia reforça a necessidade de maior controle e transparência na atuação de organizações que lidam com o sistema prisional, a fim de evitar que sejam cooptadas por facções criminosas para fins escusos.