Dólar cai 1,5% com cenário político, para R$ 3,74; Bolsa recua 0,3%
RIO – A tensão no cenário político e a volatilidade do preço do petróleo fizeram com que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) oscile nesta terça-feira. Seu índice de referência Ibovespa, que alternou entre os campos positivo e negativo várias vezes durante a manhã, fechou em queda de 0,29%, aos 49.102 pontos. Enquanto isso, os mercados externos caíram depois de a divulgação de um tombo nas exportações da China e a confirmação do encolhimento do PIB do Japão terem reacendido a preocupação dos investidores com o crescimento global.
No câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 1,47%, a R$ 3,738 para compra e a R$ 3,740 para venda — menor patamar desde 4 de dezembro. O movimento foi na contramão do comportamento global do dólar, que avança 0,15% frente uma cesta de dez divisas, segundo o índice Dollar Spot, da Bloomberg. O real é a moeda que mais ganha força contra o dólar entre as 31 principais divisas do mundo. O motivo é político, segundo analistas do mercado financeiro.
— Estamos tendo um movimento provocado por fatores internos, do contexto político. Mais uma vez, trata-se da persistência dos rumores sobre novas delações na Lava-Jato, possivelmente uma conjunta entre OAS e Odebrecht, e a impressão de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff está mais provável — disse Cleber Alessie, trader de câmbio da H. Commcor.
O mercado financeiro é, em sua maioria, crítico à política econômica do governo atual e costuma reagir de forma positiva a notícias desfavoráveis à presidente Dilma Rousseff.
No meio da tarde, o Banco Central (BC) anunciou que promoverá na quarta-feira operação conhecida como “leilão de linha” — que equivale à venda de dólares com o compromisso de recompra no futuro. Serão dois leilões, podendo chegar a US$ 2 bilhões. O anúncio fortaleceu a tendência de desvalorização do dólar hoje, disse Alessie.
— O BC costuma usar leilões de linha para ofertar liquidez ao mercado. Hoje não foi diferente. Há uma escassez de dólar “spot” (à vista) no mercado, e isso teria levado o BC a tomar essa decisão. Logo, não vejo a operação como uma forma do BC manter o nível do dólar baixo — afirmou o trader. — Nos últimos dias o dólar tem mesmo estado escasso. Vários motivos podem ser alegados para isso, como a perda do grau de investimento do Brasil pela terceira agência de risco levando à saída de investimentos do país ou uma maior volatilidade no mercado enxugando a liquidez.
EXPORTAÇÕES DA CHINA DESPENCAM 25%
As exportações chinesas sofreram em fevereiro uma queda de 25,4%, totalizando US$ 126,1 bilhões, indicaram nesta terça-feira os serviços alfandegários do país asiático. Os dados são piores que os previstos pelos analistas consultados pela agência Bloomberg, que apostavam em um retrocesso de 14,5%.
Já o PIB do Japão recuou 1,1%, em taxa anualizada, no quarto trimestre de 2015, segundo dados divulgados nesta terça-feira. Os números, embora tenham sido melhores que a leitura anterior (1,4%), confirmaram a contração da economia japonesa.
Na Europa, o índice de referência Euro Stoxx 50 cai 0,14%, enquanto a Bolsa de Londres tem baixa de 0,30%. Em Paris, a queda é de 0,35%, e em Frankfurt, de 0,28%.
Nos EUA, o índice Dow Jones recuou 0,64%, enquanto o S&P 500 — que fechou ontem no maior patamar em nove semanas — caiu 1,12%. O Nasdaq teve baixa de 1,26%.
SETOR DE CELULOSE DESPENCA
Entre as ações brasileiras, a Petrobras oscilou com força e encerrou com resultado misto. O papel ON (com voto) — que chegou a subir quase 3% — caiu 2,62%, a R$ 9,65, enquanto a PN (sem voto) subiu 1,36%, valendo R$ 7,47.
— No cenário político há bastante movimento, com várias delações previstas no radar e a condenação do executivo Marcelo Odebrecht. Com isso, a Petrobras está bastante volátil, o que também acontece por causa do comportamento do petróleo hoje — disse Rafael Ohmachi, analista da corretora Guide.
O petróleo do tipo Brent, que subia pela manhã, agora cai 3,52%, a US$ 39,39. O movimento se acentuou com a abertura das Bolsas americanas e, segundo analistas, é estimulado por especulações sobre um possível aumento dos estoques do petróleo no mercado americano.
A Vale ON — que acumulou até segunda-feira alta de 52,9% em seis pregões consecutivos, embalada pelo minério de ferro — caiu 14,51% (R$ 15,03), e a PNA caiu 12,05% (R$ 11,24). Segundo Ohmachi, o papel cai com uma realização de lucros depois das altas recentes e também em reação ao acordo entre a Vale e Fortescue, pela qual a empresa terá opção de comprar fatia da concorrente. Segundo o analista da Guide, os investidores ficaram preocupados com o impacto do anúncio na alavancagem da companhia no futuro.
No setor bancário, o destaque foi o Banco do Brasil ON, que saltou 10,90% (R$ 20,25), e o Bradesco PN subiu 0,50% (R$ 26,29). O Itaú Unibanco PN avançou 2,24% (R$ 31,91).
As fabricantes de papel e celulose se destacaram na ponta oposta, influenciadas pela queda do dólar e pela queda da celulose no mercado internacional (recuo de 2,87%, a US$ 741,40 a tonelada métrica).
A Fibria recuou 8,87% (R$ 32,76), enquanto a Klabin teve baixa de 1,24% (R$ 20,79) e a Suzano, de 7,76% (R$ 12,37).
Hoje também teve a divulgação de novos dados negativos sobre o mercado de papelão e a queda recente do dólar (por serem exportadoras, essas empresas se beneficiam de um real mais fraco). Segundo informou nesta terça-feira a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), as vendas de papelão ondulado caíram 3,9% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2015, e 5,1% frente a janeiro.