Aversão ao risco faz dólar avançar e encostar nos R$ 3,70
SÃO PAULO – O dólar ganha força em escala global nesta quinta-feira e faz a divisa seja negociada próxima a R$ 3,70. Às 16h42, a moeda americana era negociada a R$ 3,679 na compra e a R$ 3,681 na venda, uma alta de 0,93% ante o real – na máxima, já chegou a R$ 3,72. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registra valorização de 0,54%, aos 48.355 pontos.
Na avaliação de analistas, essa alta reflete um aumento de busca por proteção, o que faz com que os investidores busquem refúgio no dólar em detrimento aos ativos de países emergentes. Jefferson Luiz Rugik, superintendente da Correparti Corretora de Câmbio, lembra ainda que fatores internos também contribuem para que esse movimento ganhe força, como a atuação do Banco Central no mercado de câmbio e as indefinições em relação ao processo de impeachment.
— O dólar já abriu em alta acompanhando o exterior. Internamente, teve o leilão de swap reverso do BC, que funciona como uma venda de dólar no mercado futuro, e as declarações do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que sinalizou a judicialização do impeachment ontem à noite. Há também uma queda no preço do petróleo — disse.
O BC conseguiu ofertar 8,5 mil dos 20mil contratos de swap cambial reverso, o que pressionou as cotações. Além disso, está fazendo a rolagem apenas parcial dos contratos de swap tradicional, reduzindo sua exposição à divisa.
Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, avalia que essa alta, no entanto, pode ser um movimento de curto prazo, já que não há fatores que sustentem essa maior aversão ao risco.
— Essa alta é um movimento de busca por segurança e o dólar avança sobre as moedas de emergentes. Mas, ao mesmo tempo, a expectativa é de maior liquidez global — afirmou.
Na quarta-feira, após a divulgação da ata da última reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o bc americano), o dólar perdeu força, com o entendimento de que não ocorrerá uma alta de juros nos Estados Unidos em abril. Mas a alta não foi descartada e pode ocorrer ainda em 2016. Além disso, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, alertou que 2016 será um ano de desafios para a economia, o que fez aumentar a aversão ao risco, apesar de admitir novos estímulos. O dólar ganha força em relação a moedas consideradas fortes e de boa parte da de países emergentes. O “dollar index” tem leve alta de 0,06%.
— Além da questão da atuação do Banco Central, há um amadurecimento do investidor, que percebeu que é uma realidade a alta de juros nos Estados Unidos, mesmo que ela não ocorra agora. O dólar ganha força no mundo todo — explicou Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
PETROBRAS SEGUE O PETRÓLEO
Na Bolsa, o índice sobe com a recuperação dos papéis da Petrobras. As ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) da estatal sobem 1,05%, cotadas a R$ 7,66, e as ordinárias (ONs, com direito a voto) avançam 0,71%, a R$ 9,80. Esse movimento vai na contramão do mercado externo de petróleo. O barril do tipo Brent cai 0,75%, a US$ 39,54 – mas já chegou a recuar em torno de 3%.
Essa recuperação da Petrobras, no entanto, é encarada como um ajuste, uma vez que na quarta-feira as ações caíram forte, refletindo o cenário político, com a indefinição sobre o impeachment. A alta de quase 5% no preço do petróleo no pregão anterior acabou não fazendo efeito na Bolsa brasileira.
O cenário político também segue no radar dos investidores, com atenção redobrada ao andamento do processo de impeachment na comissão especial da Câmara dos Deputados. “É inegável que o quadro de tensão interna está mexendo e formando preço dos ativos no cenário local. Ontem tivemos a leitura do relatório da comissão de impeachment da presidente Dilma Rousseff com posicionamento antagônico e beligerante por parte da oposição e situação. Há nítida discórdia nos três poderes, e isso certamente não serve para os ajustes na economia”, avaliou, em relatório, Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais.
O Ibovespa vai no sentido contrário das principais Bolsas no mundo. Nos Estados Unidos, a aversão risco global e as perdas previstas par ao setor bancário fazem o Dow Jones cair 1,10% e o S&P 500 recuar 1,29%. Queda também na Europa, com o DAX, de Frankfurt, fechando com desvalorização de 0,98% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, caindo 0,90%.