Carrefour enfrenta crise no abastecimento de carne após “boicote” de frigoríficos brasileiros; entenda
Brasil – A crise no fornecimento de carne para o Carrefour Brasil se intensificou nesta segunda-feira (25), após grandes frigoríficos brasileiros, como JBS, Minerva, Masterboi e Marfrig, suspenderem o abastecimento de carne bovina para a rede de supermercados. A interrupção, que ocorreu na última quinta-feira (21), afetou diretamente as operações do Carrefour, que também controla as redes Atacadão e Sam’s Club no país.
Em nota, o Carrefour Brasil lamentou a situação e afirmou estar em “diálogo constante” com os frigoríficos para encontrar uma solução que permita a retomada do fornecimento de carne em suas lojas o mais rápido possível. “Estamos trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes”, disse a empresa em comunicado.
A interrupção no fornecimento de carne ocorreu após uma declaração polêmica do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, que, na quarta-feira (20), informou que a rede deixaria de comprar carne do Mercosul para o mercado francês. Em uma carta enviada a um sindicato agrícola francês, Bompard argumentou que a qualidade sanitária das carnes brasileiras estava comprometida, o que gerou forte reação de produtores rurais e autoridades brasileiras.
O boicote dos frigoríficos ao Carrefour no Brasil é visto como uma resposta à manifestação do CEO sobre a qualidade da carne brasileira, o que foi considerado inadmissível pelo governo e pelos pecuaristas do país. Em entrevista à GloboNews, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, expressou apoio à decisão dos frigoríficos e criticou a postura de Bompard. “Não é pelo boicote econômico, mas sim pela forma com que o CEO do Carrefour tratou a questão da qualidade sanitária das carnes brasileiras. A França compra carne do Brasil há quarenta anos, e agora ele vai falar sobre isso?”, questionou Fávaro.
A suspensão do fornecimento de carne também gerou uma resposta política no Brasil. O ministro Fávaro ressaltou que o Carrefour não deveria continuar comprando carne brasileira para suas lojas no país, caso não desejasse adquirir produtos do Brasil para o mercado francês. “Se para o povo francês o Carrefour não serve para comprar carne brasileira, então o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas lojas aqui no Brasil”, afirmou.
Posição do Carrefour Brasil
Em sua nota oficial, o Carrefour Brasil reiterou o compromisso com a qualidade e a responsabilidade no abastecimento de seus produtos, mas reconheceu o impacto que a suspensão do fornecimento de carne tem em seus clientes. A empresa ressaltou que, ao longo de seus 50 anos de operação no Brasil, sempre manteve uma relação sólida com os fornecedores do setor agropecuário e continuaria buscando soluções para retomar o abastecimento o mais rápido possível.
“O Grupo Carrefour Brasil lamenta profundamente a atual situação e reafirma nossa estima e confiança no setor agropecuário brasileiro. Entendemos a importância deste setor para a economia e para a sociedade como um todo, e continuamos comprometidos com o fortalecimento dessa relação”, disse a nota.
Apesar do conflito, o Carrefour afirmou que sua prioridade é garantir o fornecimento de produtos de qualidade aos seus clientes e resolver a questão sem prejudicar os consumidores brasileiros. A rede de supermercados também reforçou que está ciente da importância da relação com seus 130 mil colaboradores e com os milhões de clientes em todo o país.
Impactos e desdobramentos
A situação ainda está em andamento e pode resultar em desdobramentos, especialmente com a pressão crescente sobre o Carrefour para que retome a compra de carne brasileira, tanto para o mercado interno quanto para o exterior. A reação dos frigoríficos e do governo brasileiro ao posicionamento do CEO global da rede reflete uma tensão crescente sobre as políticas comerciais entre o Brasil e a União Europeia, especialmente em relação ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE.
A suspensão do fornecimento de carne e a troca de acusações entre as partes colocam em evidência não só as questões comerciais, mas também as relações políticas e econômicas entre o Brasil e os países europeus. O desfecho desse impasse ainda deve gerar novas reações e, possivelmente, impactar o mercado de carne no Brasil, com reflexos no abastecimento para consumidores e varejistas.