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Adolescentes em risco

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RIO – Nas últimas décadas, o mundo viu um enorme avanço na redução da mortalidade infantil, isto é, na proporção de crianças nascidas que não chegavam aos 5 anos. Passada essa idade, no entanto, essas mesmas crianças, agora já adolescentes e jovens, sofrem com a falta de atenção à sua saúde, numa negligência que poderá custar caro no futuro, na forma de mais adultos e idosos vítimas de doenças crônicas ou incapacitantes que demandarão tratamentos longos e se tornarão um fardo para a sociedade.

Por outro lado, investimentos e maior foco no bem-estar dos jovens de hoje poderão mudar radicalmente o cenário da saúde global, permitindo não só que eles vivam mais, como tenham mais anos de vida produtiva e saudável. As conclusões são de relatório da Comissão para Saúde e Bem-estar de Adolescentes, formada por 30 das mais renomadas autoridades mundiais em saúde pública e de jovens de 14 países, reunida pelo prestigiado periódico médico “The Lancet”.

— Esta geração de jovens pode transformar o futuro de todos nós — resume George Patton, professor da Universidade de Melbourne, na Austrália, e líder da comissão.

No relatório, publicado nesta segunda no site do próprio “Lancet” e lançado nesta terça em Londres, os especialistas fazem uma série de recomendações e também destrincham os dados relativos a pessoas entre 10 e 24 anos de idade na série de estudos “Fardo Global das Doenças”, que usa uma metodologia desenvolvida recentemente por cientistas do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, EUA, para calcular o impacto de 306 doenças e lesões incapacitantes, 1.233 tipos de sequelas e 79 fatores de risco à saúde nas populações de 188 países entre 1990 e 2013.

Considerada a época mais saudável da vida, essa faixa etária — que soma cerca de 1,8 bilhão de pessoas, ou mais de um quarto da população do planeta, 89% delas residentes em países pobres ou em desenvolvimento — acaba tendo sua saúde afetada principalmente por fatores ambientais e comportamentais, como abuso de álcool e drogas; violência na rua, em casa e no trânsito; sexo inseguro e contaminação por HIV/Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis; maus hábitos alimentares; e depressão e outras doenças mentais que serão determinantes para sua saúde pelo resto da vida, destacam os autores do relatório.

— Tanto no caso do Brasil quanto no do resto do mundo, o que estamos tentando fazer é alertar que precisamos focar mais esforços na saúde das crianças após os 5 anos — diz William Heisel, diretor de Engajamento Global do IHME. — Nas últimas décadas, houve uma forte tendência dos governos de gastar recursos para garantir que as crianças sobrevivam à infância, e vemos o resultado disso na queda acentuada da mortalidade infantil, em que o Brasil é um grande exemplo. No caso dos adolescentes, porém, mesmo que sua taxa de mortalidade seja relativamente baixa, eles estão sujeitos e vulneráveis a uma série de ferimentos e outros males e riscos que terão um impacto duradouro nas suas vidas. E o que queremos não é só que os jovens de hoje vivam vidas mais longas, mas também tenham vidas mais saudáveis.

Assim, segundo os especialistas, a falta de iniciativas voltadas para a educação e prevenção de doenças e acidentes entre os jovens se reflete na manutenção das principais causas de morte e fatores de risco à sua saúde entre 1990 e 2013, no Brasil e no resto do mundo.

Prática de sexo inseguro avança no mundo

Aqui, violência interpessoal, acidentes de trânsito e ferimentos autoinfligidos permanecem como os maiores “matadores” de nossa juventude, em especial nas faixas etárias dos 15 aos 19 anos e dos 20 aos 24 anos. Já em nível global é assustador o avanço da prática de sexo inseguro entre as maiores ameaças à vida dos jovens, tendo saído do 12º lugar em 1990 para o 2º na faixa entre 15 e 19 anos e do 6º também para o 2º para quem tem entre 20 e 24 anos.

— Nossos dados mostram uma clara necessidade de renovados esforços para melhorar a saúde e reduzir o fardo das doenças entre os jovens — aponta Ali Mokdad, professor de Saúde Global do IHME e líder da equipe que fez a análise dos números dos estudos “Fardo Global das Doenças” sobre os adolescentes em artigo que acompanha o relatório da comissão reunida pelo “Lancet”. — A continuada inação terá sérias ramificações na saúde desta geração e da próxima. A maioria destes problemas de saúde é evitável e tratável, e abordá-los também trará enormes benefícios sociais e econômicos. As vastas disparidades entre os países no risco e fardo das doenças, no entanto, significam que diferentes intervenções serão precisas para lidar com as necessidades únicas de cada país.


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