Coronavírus assusta o mundo do esporte e levanta dúvidas sobre a Olimpíada de Tóquio
Olimpíadas – O mundo do esporte também está em alerta com o alastramento do coronavírus pelo mundo. A realização da Olimpíada de Tóquio já começa a ser questionada. Assim como no Japão, na Itália, maior foco na Europa, diversas competições estão paralisadas ou já foram canceladas. Nesta semana, o jogo entre Inter de Milão e Ludogorets, da Bulgária, pela Liga Europa de futebol, foi disputado no estádio Giuseppe Meazza com portões fechados – sem público -, como prevenção para evitar grandes aglomerações e riscos de contágio em massa pela covid-19. Um jogador da Série C Italiana está internado com a doença.
– Aqui na Itália nós estamos em alerta por causa do coronavírus. No norte da Itália os casos de infectados são maiores mas a tendência é que aumente. O futebol italiano tem tomado algumas providências, há jogos já sendo feitos com portões fechados. O que nos passam é que ainda não é motivo de pânico, mas que temos que tomar todas as precauções possíveis para evitar o contágio dessa doença, né… É um vírus muito parecido com uma gripe, mas altamente contagiosa – diz Lucas Leiva, jogador da Lazio.
Partidas dos campeonatos de vôlei também foram adiadas no país. Bruninho, levantador da seleção brasileira campeã olímpica, atua em uma cidade a cerca de 500km de Milão.
– Como muitos sabem, estou atuando no Civitanova, na região de Marche. Aqui a gente não teve nenhum caso do coronavírus mas já estamos sendo afetados, de certa forma, pelo fato de que o campeonato está paralisado por medidas preventivas. Neste domingo, o jogo já foi adiado. A gente jogaria em Monza, na região da Lombardia, onde existem alguns casos e algumas mortes – explicou o levantador.
Mesmo distante do foco, Bruninho admite que a rotina da equipe já está passando por mudanças.
– Algumas precauções como os treinos, que antigamente eram sempre abertos ao público, agora serão fechados por motivos de prevenção, e a gente espera que o quanto antes essa situação possa ser resolvida. Acho que existe um alarde muito grande mas acredito que isso vai ser resolvido o quanto antes – emendou.
Em alguns casos, porém, a medida foi mais drástica que apenas vetar a entrada do público. A seleção paralímpica de natação, por exemplo, nem bem pousou na Itália e teve que voltar ao Brasil depois que uma etapa da Copa do Mundo foi cancelada.
– A gente ficou pouco tempo, chegamos à noite e ficamos sabendo do cancelamento da competição. Agradeço a toda equipe do Comitê Paralímpico, porque em menos de 24 horas nos trouxe de volta para casa – disse o multicampeão Daniel Dias.
Até este fim de semana mais de 70 eventos esportivos já tinham sido cancelados em todo o mundo. Outros estão sendo adiados. Caso do Grande Prêmio da China de Fórmula 1, marcado inicialmente para o dia 19 de abril, em Xangai.
A China é o epicentro do novo coronavírus. Foi lá que a epidemia começou, em dezembro do ano passado. O país também concentra mais de 90% dos casos e 95% das mortes. O dado positivo é que nessa semana as notificações de novos infectados e mortos vêm diminuindo e chegaram aos índices mais baixos num período de mais de um mês.
Vizinhos da China e geograficamente mais suscetíveis aos riscos do vírus, Coreia do Sul e Japão vêm se esforçando para tentar evitar uma disseminação descontrolada. No caso do Japão, sede da Olimpíada em julho e agosto, escolas foram fechadas, eventos culturais e esportivos cancelados ou adiados, como o campeonato nacional de futebol, que foi interrompido.
– Temos evitado sair de casa pelo que está acontecendo, mas o povo japonês já é um povo que naturalmente tem esse cuidado, né? De usar máscara, sempre está higienizado. Acho que a rotina no clube não mudou por enquanto. A J-League manteve uma precaução de adiar os jogos até o dia 15 – diz o jogador Leandro, o Tokyo FC.
Mas de que maneira o maior evento esportivo do ano pode ser prejudicado? É a pergunta que milhões de japoneses estão se fazendo agora. A cidade que esperou tanto tempo para receber os Jogos Olímpicos outra vez teme reviver um triste momento de sua história. Em 1940 a capital japonesa sediaria uma Olimpíada pela primeira vez, mas foi obrigada a desistir por causa da guerra declarada à China. A edição seria posteriormente cancelada de vez com o início da Segunda Guerra Mundial.
Em 2016, houve debates sobre o impacto que o vírus da zika poderia representar para os Jogos do Rio de Janeiro que, no fim das contas, aconteceram normalmente.
O governo japonês e os Comitês Olímpico Internacional e Tóquio 2020 têm mantido o discurso de que todas as medidas estão sendo tomadas para garantir que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos não sejam afetados pela epidemia da covid-19.
Adiar ou cancelar uma Olimpíada é algo que envolve muitos fatores – da saúde pública à economia. Especialistas dizem que não seria só uma questão de mudar a sede dos Jogos. No caso de uma pandemia, em qualquer outro lugar do mundo um evento dessa dimensão poderia ser uma grande encubadora de vírus pelo fluxo de atletas, jornalistas e turistas vindos de todas as partes do planeta.
Mover a data em alguns meses afetaria diretamente o calendário dos esportes americanos – algo que os principais patrocinadores e a televisão americana, principal parceira do COI, não querem. Adiar em um ano alteraria todo o calendário de campeonatos mundiais ou equivalentes de praticamente todas as modalidades, dando um nó no planejamento das Federações Internacionais.
Eventos-testes e o revezamento da tocha olímpica, que começa no fim de março, devem sofrer alterações. Uma das medidas possíveis é reduzir o número de cidades por onde o revezamento vai passar.
Recentemente um membro do COI deu a entender que o início do mês de maio é a data limite para uma decisão sobre o futuro dos Jogos, mas o Comitê desmentiu a informação, dizendo que não estabeleceu prazos e que não cogita uma mudança de planos. O COB segue a mesma linha de trabalho.
– A princípio, os orientações que recebemos é de manter toda a preparação da equipe. É isso que estamos seguindo, é isso que estamos orientando as confederações, mas acreditamos que qualquer tipo de decisão só mais a frente. Nesse momento, segue o trabalho para a participação do Brasil nos Jogos de Tóquio – explica Jorge Bichara, gerente de alto rendimento do COB.
Tóquio foi escolhida há sete anos para realizar Jogos que representassem a reconstrução de um país que superou o mais forte terremoto de sua história, um tsunami e um acidente nuclear, em 2011. Sentimentos traduzidos por lemas como “a esperança ilumina nosso caminho”, usada para o revezamento da tocha, e o recém lançado “unidos pela emoção”. Coragem para encarar as adversidades é algo que nunca faltou a esse povo, pronto para enfrentar um inimigo para garantir a maior celebração da humanidade.